Ao ver um filme destes, ao escrever sobre um filme destes, é-me completamente impossível dissociar a minha condição de médico e de cinéfilo, porquanto o médico permite-se frequentemente dar umas dicas ao cinéfilo e este responde com pontos de vista estranhos aos juízos clínicos. Este filme é um filme sobre relações humanas complexas num contexto de solidão, fragilidade e dependência. Nos alvores da "nova vaga" do cinema romeno, Puiu construi um "road movie" hiper-realista e contundente onde o envelhecimento, a doença e a morte, são apenas nomes, números, dados, rótulos, fichas, impondo-se inevitavelmente à pessoa concreta e ao doente em particular. Familiar, não é ? tantas vezes temos consciência disso e tantas vezes caímos no mesmo erro, como o colega que está antes de mais preocupado em contactar a esposa e arranjar desculpas para não actuar ou o outro moralista que prega raspanetes ao doente em vez de o atender decentemente. Enquanto a morte vai avançando em "real time", o filme filtra o real, é apenas um filme, certo ? Pois é, falemos do filme. Muitas vezes parece um documentário, aquelas urgências são reais, estão lá doentes verdadeiros, vêm-se filas verdadeiras e pessoas que sofrem realmente, não são meros figurantes. É uma espécie de "cinema verité", às vezes parecendo desconstruir a própria linguagem do cinema, que sempre procurou de certa forma criar ilusões e montar ficções, em suma entreter. Não estou a ver filas nos cinemas para ver um filme destes num Domingo à tarde.Quanto tempo sobrevive este tipo de cinema à velha lógica do cinema-espectáculo, que tem ditado leis?
Ao ver um filme destes, ao escrever sobre um filme destes, é-me completamente impossível dissociar a minha condição de médico e de cinéfilo, porquanto o médico permite-se frequentemente dar umas dicas ao cinéfilo e este responde com pontos de vista estranhos aos juízos clínicos.
ResponderEliminarEste filme é um filme sobre relações humanas complexas num contexto de solidão, fragilidade e dependência.
Nos alvores da "nova vaga" do cinema romeno, Puiu construi um "road movie" hiper-realista e contundente onde o envelhecimento, a doença e a morte, são apenas nomes, números, dados, rótulos, fichas, impondo-se inevitavelmente à pessoa concreta e ao doente em particular.
Familiar, não é ? tantas vezes temos consciência disso e tantas vezes caímos no mesmo erro, como o colega que está antes de mais preocupado em contactar a esposa e arranjar desculpas para não actuar ou o outro moralista que prega raspanetes ao doente em vez de o atender decentemente.
Enquanto a morte vai avançando em "real time", o filme filtra o real, é apenas um filme, certo ?
Pois é, falemos do filme.
Muitas vezes parece um documentário, aquelas urgências são reais, estão lá doentes verdadeiros, vêm-se filas verdadeiras e pessoas que sofrem realmente, não são meros figurantes. É uma espécie de "cinema verité", às vezes parecendo desconstruir a própria linguagem do cinema, que sempre procurou de certa forma criar ilusões e montar ficções, em suma entreter. Não estou a ver filas nos cinemas para ver um filme destes num Domingo à tarde.Quanto tempo sobrevive este tipo de cinema à velha lógica do cinema-espectáculo, que tem ditado leis?